quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Na Real
A chuva emprestava à manhã uma certa suavidade, aplacando a aridez do ar, borrando levemente a paisagem e sobrepondo os sons cotidianos com sua canção nostálgica. De certa forma, impregnava o dia com novas perspectivas e ele gostaria de acreditar que, a partir daquele instante, tudo seria diferente do que o previamente estabelecido para uma segunda-feira.
Esqueceu seu devaneio no box do chuveiro, tão logo foi contrariado pela toalha, ainda um pouco úmida, tocando-lhe as costas.
Seguiu com precisão o script de todas as manhãs - mesmo as de verão.
Ao carro, o rádio saltitava, insatisfeito, de estação em estação. Não havia limites à rotina e os dias grudavam-se uns aos outros, que de repente desembocavam novamente em outro final de semana, que era apenas levemente melhor do que os dias úteis.
A realidade era como uma caixa a conter-lhe o coração.
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