domingo, 6 de novembro de 2022

Homens & Gatos

Homens e gatos, interessante relação!
Nos vejo juntos ao espelho
imóveis
às vezes parece tão distante, ausentado
depois vem procurar carinho, proximidade
vai entender?!?
respiração macia, batuque lento
silêncio
penso na vida, que é boa, nas escolhas
- O quanto somos responsáveis por nosso destino?
Pergunto em voz alta e ele me olha com indiferença...
no que será que pensa?
Aposto que em comida, bebida e... gatas
o que mais passa na cabeça de um homem???

terça-feira, 1 de novembro de 2022

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Ailtum Atentus

Ailtum Atentus
(Athene cunicularia)

Terrícola e de hábitos diurnos, embora evite o sol a pino, este parente distante dos mochos e murucututus é conhecido em algumas áreas da capital paulista como Coruja-buraqueira, é certo que a alcunha se apoia em algum hábito desse alado ser, mas não caberá ao presente estudo explorá-lo.
Cumpre registrar no entanto, que a comunidade científica rejeita com veemência a atribuição do filo "Atentus" pra quem só consegue chegar com a 3a aula já em curso, mas o que está feito está feito, "Atentus" és!
Estratégico, posiciona-se em pontos extremos de onde possa observar tudo, de preferência sem ser notado.


Tem dificuldade na locomoção por terra, vai aos pulinhos, mas voa... voa, voa, voa, voa.
Ocorre do Canadá à Terra do Fogo e em quase todo o Brasil Varonil.
Teme gambás, texugos e, principalmente a Sílvia serpentis que não lhe dá trégua, "filha duma égua"!
O nome genérico, Athene, trata-se de um mitónimo(1) em alusão a Atena, deusa grega da sabedoria(2).
Fala pouco, mas presta uma atenção!!!!

(1) substantivo próprio que nomeia um ser de qualquer mitologia.
(2) sabedoria... essa é boa!!!

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Caem pensamentos de amor dentro dos vulcões extintos?

Tormar-me-ia um monte?
Morto, infértil.
Morro morno e torto.
Há extintos vulcões, se é só de lava que te falo?

falo
eruptada planície
balsâmica visão,
vulcânico desejo.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Carta #6

oi baby,

Tô ótimo!
Tenho estudado bastante, trabalhado bastante, talvez para aplacar aquela sensação de que falta alguma coisa.
você sabe o que é isso?
Você sabe o que é isso.
É aquilo que fica quando apagam-se as luzes e
aquela mancha no teto, que te faz pensar em qualquer outra coisa,
some também.
Aí é só você e Você,
tudo fica estranho,
como se a noite não quisesse engrenar,
patinando, não abre espaço aos sonhos.

Dá um medo menina,
quando eu olho no relógio e já vejo o amanhã chegando...
com a cara de ontem.

saudade? Só quando Você não está.

beijo

terça-feira, 4 de outubro de 2016

bom, nunca fui

eu nunca fui bom em falar das coisas que sinto
eu nunca fui bom em falar das coisas
eu nunca fui bom em falar
eu nunca fui bom
eu nunca fui

sábado, 17 de setembro de 2016

Carta #5






Foi hoje que eu acordei sem você. Não ria, sei que faz tempo, mas acho que eu dormia da sua ausência.
As coisas ainda estavam tão do seu jeito, parecia que você vinha arruma-las quando eu saia. Imaginava que dia desses você ainda se esqueceria por aqui e quando eu chegasse, te contaria do meu dia e faríamos de conta que eu não disse nada do que eu disse e de que você não fez nada do que fez. Um vaso intacto seríamos nós pra toda vida. Flores e perfumes, pra toda vida cheios.
Mas hoje eu acordei... e sem você, a torneira pingava um plec... plec... plec, a pia manchada da ferrugem lenta que vem com cada pingo. Como ela era tão branca quando viemos pra cá, lembra? Agora vê-se aquela mácula alaranjada escorrida até o ralo, que também era mais brilhante noutros tempos.
Pelo canto do olho quase vejo as escovas ainda alinhadas na beira da pia, o tubo de creme dental, hoje disputariam espaço com o aparelho de barbear, o vidro de perfume vazio, lascas de unha, cabelos, pelos, os óculos de usar no banheiro, o livro que não aguento mais tentar ler, todos ali.


esperamos você.


segunda-feira, 6 de junho de 2016

Carta #4


Oi Baby,

Chove tanto hoje.

Vejo o mar quando ouço os carros passando pela rua molhada.
No asfalto, as rodas espirram nova onda que vem quebrando gigante, se aproxima, me atravessa - não
me leva.

Não tem onda que me leve sem você.

Sou pé cravado na areia fina, quase tão fina quanto seus cabelos e pelos.
Guardo-lhes a memória nos dedos, ainda quentes, minha boca inunda de saudade.

Chove um oceano aqui dentro, um apartamento em maré alta.
As janelas escorrem, água verte da parede, escorro por baixo das portas, é tua vazante que me lava.

tudo é sal.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Carta #3


Oi Baby,

Faz tão pouco tempo que você me deixou
quase vejo seu vulto entre uma porta e outra.
Seu cheiro me busca para dormir.
Acordo à noite e ouço seu ronronar manso, de quem dorme sem culpas.
A vida era fácil a seu lado, seu jeito de ver as coisas mudava tudo.

Lembra quando falava que não me amava?
Eu fazia cara triste, ameaçava chorar
depois ríamos muito,
mesmo sabendo que nada daquilo era bricadeira, ríamos
e brincávamos de não saber.

No dia que você entrou em casa eu soube que você iria embora,
não havia o brilho do amor pra sempre.

Você deixou a bolsa sobre a cadeira da cozinha
revelando seu plano de fuga,
ficava claro que
mais dia, menos dia
deixaria tudo pra tras,
só levaria a bolsa e olhe lá.


Grã

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Coletivo



"Filho da Puta", era assim que o ônibus da linha 1525-S, Vila Cândida - Berrini, era carinhosamente chamado por seus passageiros.
- Puta que o pariu, me atrasei, o Filho da Puta já passou?
Chegando ao ponto, o rapaz pergunta, conferindo o atraso no relógio.
- Passou um lotado que só o caralho.
Responde com ar de lamento a senhora que já se encontrava no ponto e sua filha complementa com uma análise precisa da situação:
- Nem adianta. Tava cheio pá porra!!
O rapaz e a senhora continuaram conjecturando sobre a condição precária do transporte coletivo, principalmente nos pontos mais afastados da cidade:
- Que bosta, isso que dá morar no cu do mundo!
- É os caras querem mais que o pobre se foda!
- Nem me fale! E o corno do meu chefe não quer saber de porra nenhuma, 15 minutos de atraso e já me corta o ponto! Engravatado de merda.
Passados 20 min, novo hermético coletivo se aproxima, os três respiram fundo.
A mulher encara o rapaz e em seguida com a sobrancelha faz um sinal para a filha.
O veículo completamente lotado exige uma certa estratégia nas paradas: O motorista faz a aproximação mantendo a velocidade com a qual vinha e em cima do ponto, com gosto, afunda a botina no freio que zurra em homenagem ao condutor. A massa, que já estava no nível extremo de compactação, aproxima-se mais e num mesmo instante vários corpos passam a ocupar o mesmo espaço, meio degrau se oferece aos pretensos passageiros, a mulher calcula com precisão aonde a porta vai parar, se ajeita de modo a oferecer ao rapaz o flanco direito, o rapaz não percebe a manobra e acha que conquistará a preferência de embarque, avança pela direita, ainda no segundo passo ele é interrompido, pela mulher com um leve "jogo de bunda", e fica sem passagem não chegando à porta, a filha avança pelo centro, habilidosa, mantém os pés bem juntos e finca posição no último degrau, como em um bailado a mulher coloca seus pés um de cada lado dos pés da menina, ambas seguram firme na barra de apoio e são agora o ponto de maior tensão no ônibus, a multidão em refluxo tenta retomar o espaço cedido com a freada e os candidatos a passageiros tentando um mínimo apoio para alavancar o ingresso.
Entra em cena o mediador-cobrador:
- Sem fechar a porta o ônibus não saí!
O desconforto é geral, todos tentam se ajeitar para possibilitar à maldita porta de fechar.
Do rapaz, os pés, ainda na calçada, já admitem a derrota, mas o braço guerreiro mantém-se firme segurando a barra e sem sucesso puxando o corpo para cima da mulher.
A porta começa seu trabalho psicológico:
- tchhh tchuuu tchitchi tchuuuu. Ameaçando fechar.
Da massa surge a voz libertadora:
- Olha, o de traz está vazio!
O rapaz se distrai para olhar, o braço falseia e a mulher deixa o peso do corpo fazer o resto do serviço:
- tchhhhh puffffff
A porta se fecha, o tal ônibus vazio está indo para garagem, a mulher e a filha se olham e da calçada o homem ainda mantém o braço a meia altura:
- Filho da puta!
Djair agora em silêncio, já calcula o prejuízo do atraso no holerite.