segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Pecador



"Eu não consigo me controlar,
tenho um demônio na carne, no corpo.
Sonho acordada na escuridão da minha cela,
utilizo os dedos pra provocar sensações proibidas.
Eu não sei explicar como isso acontece,
eu sinto um formigamento percorrer o meu corpo,
algo se desprende
e caminha em direção a você"

Você entra comigo pela porta da sala,
me vê sacar os sapatos
e, enquanto me ajeito ao sofá com a cerveja,
se interpõe à TV e me assiste.
As imagens são luzes que contornam seu corpo e me divertem,
os sons... não há sons, há saliva e fome.
Me segue em direção a cozinha,
enfia a colher na minha sopa.
Como, com você passando os dedos por meus lábios, contornando meu nariz,
senta-se em meu colo, me abraça, acomoda a cabeça sobre meu ombro,
alisa minha barba,
mirando o relógio, entreouve os assuntos rotineiros,
puxa com força meu cabelo, quer me arrancar dali,
não sossega até rumarmos ao banheiro.
Sob a água morna para quente, encosta a boca em meu ouvido
e ouço de amores improváveis.
Cola-se ao box e oferece-me as costas,
minhas mãos descem pelo vidro liso.
A vejo refletida nas gotas que aceleram para o chão.
Junto a cabeça, ensaboa meus pensamentos sujos.
Esfrega os restos de dia que ainda sobreviviam em minhas costas.
Apoiado à parede meu corpo acompanha seus movimentos compassados,
não encontro suas pernas entre o vapor e a espuma.
Sento no piso molhado,
tudo vai pelo ralo.