Janela do meu quarto
a seu quarto
ou outro,
de milhões de quartos
pelo mundo,
outros mundos
tão distantes,
são flagrantes as diferenças
vão de crenças a condutas
uns canalhas,
uns birutas,
construindo vossos sonhos,
entre goles e bitucas,
uns bonitos, uns medonhos,
revelando-se em detalhes
seus segredos singulares,
de viver, em outros lares;
por alguém cruzar os mares:
navegares, naufragares
capitão em outra nau,
ir de encontro ao temporal,
a chuva forte a castigar
faz a água penetrar
pela janela
do meu quarto,
ou de seu quarto,
que, em um segundo,
é, do mundo, o lugar onde ancorar
um encouraçado-coração
e velejar em seus lençois
prá lhe beber em um gole só
e me nutrir em seu prazer
E enfim poder voltar ao pó.
Um comentário:
O Pessoa tinha tantas questões voltadas para seu moderno realismo crítico que... acho que devia ler isto.
"La poesía, señor hidalgo, a mi parecer, es como una doncella tierna y de poca edad... pero esta doncella no quiere ser traída por las calles, ni publicada por las esquinas de las plazas, ni por los rincones de los palacios.". Eduardo Lourenço recortou essa passagem de Dom Quixote para falar do pouco reconhecimento dos poemas de Pessoa pelo grande público, no entanto diz ter o poeta sido reconhecido pelos "seus". Quanto à Tabacaria, trouxe a ele a lenda de "poeta maldito", o que faz Eduardo Lourenço concluir que, de fato, não era "especialmente vocacionado para o que chamamos felicidade".
Viu? Ele precisava ler isto.
Eu também.
Michelle
Postar um comentário