sábado, 17 de setembro de 2016

Carta #5






Foi hoje que eu acordei sem você. Não ria, sei que faz tempo, mas acho que eu dormia da sua ausência.
As coisas ainda estavam tão do seu jeito, parecia que você vinha arruma-las quando eu saia. Imaginava que dia desses você ainda se esqueceria por aqui e quando eu chegasse, te contaria do meu dia e faríamos de conta que eu não disse nada do que eu disse e de que você não fez nada do que fez. Um vaso intacto seríamos nós pra toda vida. Flores e perfumes, pra toda vida cheios.
Mas hoje eu acordei... e sem você, a torneira pingava um plec... plec... plec, a pia manchada da ferrugem lenta que vem com cada pingo. Como ela era tão branca quando viemos pra cá, lembra? Agora vê-se aquela mácula alaranjada escorrida até o ralo, que também era mais brilhante noutros tempos.
Pelo canto do olho quase vejo as escovas ainda alinhadas na beira da pia, o tubo de creme dental, hoje disputariam espaço com o aparelho de barbear, o vidro de perfume vazio, lascas de unha, cabelos, pelos, os óculos de usar no banheiro, o livro que não aguento mais tentar ler, todos ali.


esperamos você.


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